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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Sou eu mesmo.../O quereres




Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! ...

Álvaro de Campos


O quereres

Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta, e onde voas bem alta eu sou o chão
E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão

Onde queres família sou maluco, e onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco, e onde queres eunuco, garanhão
E onde queres o sim e o não, talvez, onde vês eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo eu sou o irmão, e onde queres cowboy eu sou chinês

Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato eu sou o espírito, e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre decassílabo, e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói, e onde queres tortura, mansidão
Onde queres o lar, revolução, e onde queres bandido eu sou o herói

Eu queria querer-te e amar o amor, construírmos dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou
E te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és

Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper vídeo, e onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua eu sou o sol, onde a pura natura, o inceticídeo
E onde queres mistério eu sou a luz, onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro, e onde queres coqueiro eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim

Caetano Veloso

sábado, 25 de julho de 2009

Amigos para sempre

O amigo é a resposta aos teus desejos. Mas não o procures para matar o tempo! Procura-o sempre para as horas vivas. Porque ele deve preencher a tua necessidade, mas não o teu vazio. khalil Gibran

Recebi estes dois lindos selos, dos meus queridos amigos Celene e Lison, amigos que muito estimo e que, pela sua maneira de ser e estar me transmitem muita tranquilidade e sabedoria

Muito obrigada pela vossa indicação.


Recebi do Lison

Recebi da Celene

Repasso para os meus amigos: Prof Nelson; José Sidney ; Rob Maia ; José Chagas; João Cunha

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A fada das crianças


Do seu longínquo reino cor-de-rosa,
Voando pela noite silenciosa,
A fada das crianças, vem, luzindo.
Papoulas a coroam, e, cobrindo,
Seu corpo todo, a tornam misteriosa.

À criança que dorme chega leve,
E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,
Os seus cabelos de ouro acaricia -
E sonhos lindos, como ninguém teve,
A sentir a criança principia.

E todos os brinquedos se transformam
Em coisas vivas, e um cortejo formam:
Cavalos, soldados e bonecas,
Ursos e pretos, que vêm e vão e tornam,
E palhaços que tocam em rabecas ...

E há figuras pequenas e engraçadas,
Que brincam e dão saltos e passadas ...
Mas vem o dia, e, leve e graciosa,
Pé ante pé, volta a melhor das fadas
Ao seu longínquo mundo cor-de-rosa.

(Fernando Pessoa)

sábado, 18 de julho de 2009

Gripe suína ou PANDEMIA DE LUCRO - toda a verdade

Que interesses económicos se movem por detrás da gripe porcina???
No mundo, a cada ano, morrem milhões de pessoas vitimas da Malária que se podia prevenir com um simples mosquiteiro.
Os noticiários, disto nada falam!
No mundo, por ano, morrem 2 milhões de crianças com diarreia que se poderia evitar com um simples soro que custa 25 cêntimos.
Os noticiários disto nada falam!
Sarampo, pneumonia e enfermidades curáveis com vacinas baratas, provocam a morte de 10 milhões de pessoas a cada ano.
Os noticiários disto nada falam!
Mas há cerca de 10 anos, quando apareceu a famosa gripe das aves... os noticiários mundiais inundaram-se de notícias...
Uma epidemia, a mais perigosa de todas...Uma Pandemia! Só se falava da terrífica enfermidade das aves.
Não obstante, a gripe das aves apenas causou a morte de 250 pessoas, em 10 anos... 25 mortos por ano.
A gripe comum, mata por ano meio milhão de pessoas no mundo. Meio milhão contra 25.
Um momento, um momento. Então, porque se armou tanto escândalo com a gripe das aves?
Porque por trás desses frangos havia um "galo", um galo de crista grande. A farmacêutica transnacional Roche com o seu famoso Tamiflú vendeu milhões de doses aos países asiáticos.
Ainda que o Tamiflú seja de duvidosa eficácia, o governo britânico comprou 14 milhões de doses para prevenir a sua população.
Com a gripe das aves, a Roche e a Relenza, as duas maiores empresas farmacêuticas que vendem os antivirais, obtiveram milhões de dólares de lucro.
Antes com os frangos e agora com os porcos.
Sim, agora começou a psicose da gripe porcina. E todos os noticiários do mundo só falam disso...
Já não se fala da crise económica nem dos torturados em Guantánamo...
Só da gripe porcina, a gripe dos porcos... E eu pergunto-me: se por trás dos frangos havia um "galo"... por trás dos porcos... não haverá um "grande porco"?
A empresa norte-americana Gilead Sciences tem a patente do Tamiflú. O principal accionista desta empresa é, nada menos que um personagem sinistro, Donald Rumsfeld, Secretário da Defesa de George Bush, artífice da guerra contra o Iraque...
Os accionistas das farmacêuticas Roche e Relenza estão esfregando as mãos, estão felizes pelas suas vendas novamente milionárias com o duvidoso Tamiflú.
A verdadeira pandemia é de lucro, os enormes lucros destes mercenários da saúde. Não nego as necessárias medidas de precaução que estão a ser tomadas pelos países.
Mas, se a gripe porcina é uma pandemia tão terrível como anunciam os meios de comunicação, se a Organização Mundial de Saúde se preocupa tanto com esta enfermidade, porque não a declara como um problema de saúde pública mundial e autoriza o fabrico de medicamentos genéricos para combatê-la?
Prescindir das patentes da Roche e Relenza e distribuir medicamentos genéricos gratuitos a todos os países, especialmente aos pobres.
Essa seria a melhor solução.

PASSEM ESTA MENSAGEM POR TODOS LADOS, COMO SE SE TRATASSE DE UMA VACINA, PARA QUE TODOS CONHEÇAM A REALIDADE DESTA "PANDEMIA".

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sindrome de Tourette ou fluídos pesados de espíritos sofredores?

Sindrome de Tourette é uma desordem neurológica que se caracteriza por tiques involuntários que podem ser vocais ou motores e mudam constantemente de intensidade. Este sindrome aparece mais nos homens do que nas mulheres e manifesta-se na infância, vindo a perder a intensidade na fase adulta. Os tiques podem manifestar-se em qualquer parte do corpo, mas normalmente ocorrem no rosto e na cabeça - no rosto em forma de caretas repetidas e na cabeça como um todo em forma de movimentos bruscos, repetidos, de um lado para o outro.
Até hoje ainda não se encontrou tratamento para este sindrome.

Algumas doenças poderão ser provocadas pelos fluídos pesados dos espíritos sofredores, a que está ligado a criatura encarnada? OBSESSÃO OU NÃO?

Hierodulas, heteras e Puta a deusa da podadura

Desde a pré-história a mulher era associada à Grande Deusa, Deusa Mãe, ou Deusa Terra, e como tal estava no centro das actividades sociais. A prostituição sagrada foi muito praticada na antiguidade com finalidade religiosa. As hierodulas (escravas ou prostitutas sagradas) normalmente ligadas a um templo, praticavam o sexo para angariar bens destinados ao templo, com o intuito de permitir a união de homens com os deuses, ou ainda para propiciar a fertilização.
A natureza sexual do homem e da mulher era inseparável de sua atitude religiosa. Nos seus louvores de agradecimento, ou nas suas súplicas, eles ofereciam o acto sexual à deusa, reverenciada pelo amor e pela paixão. Tratava-se de um acto honroso e respeitoso, que agradava tanto ao divino quanto ao mortal. A prática da prostituição sagrada surgiu dentro desse sistema religioso matriarcal e, por conseguinte, não fez separação entre sexualidade e espiritualidade.
Na Antiguidade, em várias civilizações do Oriente Médio era comum a prática da prostituição sagrada, pela qual os homens visitavam templos, onde tinham relações sexuais com o objectivo de comungar com uma determinada deusa . A prostituta sagrada encarnava a deusa, tornando-se responsável pela felicidade sexual, "a veia através da qual os rudes instintos animais são transformados em amor e na arte de fazer amor", explica Nancy Qualls-Corbett, autora do livro "A prostituta sagrada", da Editora Paulus.

Para os homens antigos a lua era andrógina. Pelo facto de o homem depender dos préstimo da Lua para a fertilidade da terra, dos homens e dos animais, provocou desde a mais remota antiguidade uma espécie de hiéros gamos, casamento sagrado, uma união com intuito sagrado e impessoal

Assim, criou-se uma espécie de ritula sagrado, onde o homem - lua cujo representante na terra era o rei ou o chefe tribal, passava a noite de núpcias com a noiva, para promover a fertilização do casal e consequentemente da tribo e da terra. Este costume perdurou na França até á Idade Média.

Da mesma forma, em determinadas épocas do ano, sacerdotisas e mulheres de todas as classes sociais uniam-se sexualmente a reis, sacerdotes ou a estranhos, que simbolizavam o homem-lua para angariar bens materiais para a deusa (Lua) mas também para que esta favorecesse a fertilização.

Cibele era uma deusa frígia, trazida solenemente para Roma entre 205 e 204 a.C Identificada pelos seus adoradores com a lua era protectora da mulher. Durante as festas orgiásticas da Bona Mater, como era chamada em Roma, os seus sacerdotes e muitos dos seus adoradores vestidos com roupas femininas passavam a servir a deusa Cibele praticando a homossexualidade.

O mesmo acontecia na Índia onde os homens de Winnipeck que consideram o sol como propicio ao homem, mas julgam que a lua lhes é hostil, se sonhassem com a lua sentiam-se no dever de se vestir de mulheres e servir a deusa.

No período em que existia a prostituição sagrada, as culturas constituíram-se sobre um sistema matriarcal que, muito mais do que mulheres em cargos de autoridade, significava um foco em valores culturais diferentes. "Onde o patriarcado estabelece lei, o matriarcado estabelece costume; onde o patriarcado estabelece o poder militar, o matriarcado estabelece autoridade religiosa; onde o patriarcado encoraja a areteia (valor, força e perícia) do guerreiro individual, o matriarcado encoraja a coesão do coletivo, algo que tem a ver com a tradição". (William Thompson, The Time Falling Bodies Take to Light)

As heteras na antiga cultura grega
As heteras mulheres livres, desempenhavam na antiga cultura grega o mesmo papel que hoje as “call girls” desempenham na nossa sociedade.

Eram acompanhantes, companheiras, reuniam a espiritualidade com a graça feminina para além da capacidade de conversação, virtudes que uma esposa comum raramente possuía.

Em meados do sec IV a. C. aparece uma figura miúda mas de extraordinária beleza, tocadora de flauta e sacerdotiza de Afodite, chamada Frinéa que ficou na história pela sua graça e pelo seu costume de submergir nua com os cabelos soltos nos festivais de Poseidon e nos Rituais de Eleusis.
Teve um papel importante no meio cultural da época. Amante de figuras importantes como Praxiteles, posa para a escultura “Afrodite de Cnidos”. Frequenta o círculo de amigos de Sócrates e de Arsitófanes que a têm em alta consideração.

Puta, em latim era uma Deusa muito antiga e importante. O termo provém do verbo putare, "podar", Puta era a deusa que presidia a podadura.
O sentido prejurativo surgiu por volta de 1180-1230 d.c. num texto escrito, até lá nunca foi visto com sentido erótico ou menos digno.

sábado, 11 de julho de 2009

Dizer Não

Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.

Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.

Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.

Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.

Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.

Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.

Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.

Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenarmo-nos em gado sob o comando de um pastor.

Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.

Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.

E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

Fonte: Citador

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Os homens falam de "Deus"


Se estamos no alto, Deus é tudo. Se estamos em baixo, Deus é uma compensação para a nossa miséria
Autor: Goethe , Johann

Era-me mais fácil imaginar um mundo sem criador do que um criador carregado com todas as contradições do mundo
Autor: Beauvoir , Simone de

Só se deverá acreditar num Deus que ordene aos homens a justiça e a igualdade
Autor: Sand , George

Deus é a lei e o legislador do Universo
Autor: Einstein , Albert

Se Deus está connosco, quem estará contra nós?
Fonte: "Romanos 8,31"
Autor: Textos Bíblicos

Deus está em toda a parte, mas o homem somente o encontra onde o busca
Fonte: "Mordechol Kaplan" 

Autor: Textos Judaicos

Deus fez-te para o amares e não para o compreenderes
Autor: Voltaire

Deus concede-nos o dom de viver. Compete-nos a nós viver bem
Autor: Voltaire

Toda a prova da existência de Deus o rebaixa a nosso próprio nível
Fonte: "Pensamento à Solta" 

Autor: Silva , Agostinho

A diferença entre Deus e nós deve ser não de atributos, mas da própria essência do ser. Ora tudo é o que é. Portanto Deus é não só o que é mas também o que não é. Confunde-nos de Si com isso
Autor: Pessoa , Fernando

Desconcerta-me tanto pensar que Deus existe como que não existe
Autor: Márquez , Gabriel

Deus é um castelo de defesa
Autor: Lutero , Martinho

Tudo é bom quando sai das mãos do Autor das coisas, e tudo degenera entre as mãos do homem
Fonte: "Emílio"

Autor: Rousseau , Jean Jacques

Fonte : www.pensador.info/

sábado, 4 de julho de 2009

Lenda do Rei Ramiro


Uma antiga lenda que remonta ao século X, conta que o rei Ramiro II de Leão se apaixonou por uma bela moura de sangue azul, irmã de Alboazer Alboçadam, rei mouro que possuía as terras que iam de Gaia até Santarém. Influenciado pela sua paixão e com a intenção de pedir a moura em casamento, Ramiro decidiu estabelecer a paz com Alboazer, que o recebeu no seu palácio de Gaia.

Apesar de já ser casado, Ramiro pensou que seria fácil obter a anulação do seu casamento pelo parentesco que o unia a D. Aldora. Alboazer recusou terminantemente: nunca daria a irmã em casamento a um cristão e, de todas as formas, esta já estava prometida ao rei de Marrocos.
O rei Ramiro, vexado, pareceu aceitar a recusa, mas pediu ao astrólogo Amã que estudasse os astros para decidir qual a melhor altura para raptar a princesa e levou-a consigo nessa data propícia.

Dando por falta da irmã, Alboazer ainda chegou a tempo de encontrar os cristãos a embarcar no cais de Gaia. Gerou-se uma luta favorável ao rei cristão, que levou a princesa moura para Leão, a baptizou e lhe deu o nome de Artiga, que tanto significava castigada e ensinada como dotada de todos os bens.

Alboazer, para se vingar, raptou a legítima esposa do rei Ramiro, D. Aldora, juntamente com todo o seu séquito. Quando o rei Ramiro soube do rapto ficou louco de raiva e, juntamente com o seu filho D. Ordonho e alguns vassalos, zarpou de barco para Gaia. Aí chegados Ramiro disfarçou-se de pedinte e dirigiu-se a uma fonte onde encontrou uma das aias de D. Aldora a quem pediu um pouco de água, aproveitando para dissimuladamente deitar no recipiente da água meio camafeu, do qual a rainha possuía a outra metade. Reconhecendo a jóia, D. Aldora mandou buscar o rei disfarçado de pedinte e, por vingança da sua infidelidade, entregou-o a Alboazer.

Sentindo-se perdido, o rei Ramiro pediu a Alboazer uma morte pública, esperando com astúcia ganhar tempo para poder avisar o seu filho através do toque do seu corno de caça. Ao ouvir o sinal combinado, D. Ordonho acorreu com os seus homens ao castelo e juntos mataram Alboazer e o seu povo, para além de destruírem a cidade. Levando D. Aldora e as suas aias para o seu barco, o rei Ramiro atou uma mó de pedra ao pescoço da rainha e atirou-a ao mar num local que ficou a ser conhecido por Foz de Âncora. O rei Ramiro voltou para Leão onde se casou com a princesa Artiga, de quem teve uma vasta e nobre descendência.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Estavas linda Inês...

A Quinta das Lágrimas, cuja origem se perde nos séculos, foi o cenário dos amores proibidos do príncipe D. Pedro e D.Inês de Castro, uma fidalga castelhana que servia de dama de companhia a sua mulher D. Constança. Diz a lenda que foi na Quinta das Lágrimas que D. Inês chorou pela última vez, enquanto era trespassada pelos punhais dos fidalgos a quem o rei Afonso IV ordenara a sua morte. As lágrimas então derramadas inspiraram Luís de Camões a criar o nome de Fonte das Lágrimas e muitos outros escritores a consagrar o amor eterno de Pedro e Inês.


INÊS DE CASTRO
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
Dos teus anos colhendo o doce fruto,
Naquele engano de alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito;
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas
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Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro. que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez rainha,
As espadas banhando e as brancas flores
Que ela dos olhos seus regados tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos
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As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas chorados transformaram:
O nome lhe puseram, que ainda dura,
"Dos amores de Inês ", que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome Amores!

Poema de Luís de Camões